domingo, 29 de julho de 2012

O velho cara e meu impulso

Cara, você chegou de novo e com sua presença veio seu cheiro, sua voz, sua conversa.
Diferente dos outros, com você espero mais pela próxima risada, pelo próximo sorriso, pela minha próxima jogada de cabelo desastrada enquanto tento entender o que se passa pela sua cabeça.
Você sabe que eu sou louca, que eu falo o que penso, que não tenho bom senso e não sou do tipo que te espera tomar uma iniciativa.
Sei que meu impulso te assusta, mas, acredite em mim, eu nunca senti com ninguém essa falta de controle absurda, essa necessidade de te sentir e saber que você está ali e está perto de mim.
Talvez a gente não se veja mais, talvez você passe por mim e me ignore, ou talvez a gente só converse como simples conhecidos. Não importa. Eu te agradeço. Agradeço por me trazer de volta algo que eu achei que tivesse perdido, por ter voltado a acreditar em sorrisos, em conversas e toques de mãos. Agradeço ao velho cara por me trazer uma nova vida.

domingo, 28 de agosto de 2011

dez em dois

É assim toda noite. O corpo descansa e a cabeça não para.
São pedaços de lembranças desses dois últimos anos que insistem em aparecer. Dois anos em tempo, dez em amadurecimento.
Se em um aprendi o significado do que é amar alguém, agora me pergunto todos os dias se isso realmente existe.
Se em um dependia desse "amor", hoje não dependo de mais nada.
Em um ano eu duvidava de mim, do que eu acreditava, e me viciava cada vez mais em um alguém. Agora eu vejo que eu realmente posso chegar aonde eu quiser. E que vicios deixam saudades, deixam pedaços. Mas passam.
Falta de alguém traz liberdade. Liberdade sem ninguém traz o vazio.
Eu tento fugir, tento não acreditar, mas todo dia me pergunto quando vou sentir aquilo novamente. E como eu gostaria!
Já passou das quatro da manhã e eu senti o seu cheiro de novo...

domingo, 7 de agosto de 2011

três

Foram assim nos últimos meses, dei meu coração em cada esquina. Só mais um, é o que eu digo, afinal ninguém é igual. Vai um, vão três, vão pedaços do que já foi um coração.
Foi fácil para mim deixá-los ir pois na verdade eu nunca os tive.
Fingi, me segurei, me apeguei ao que não existia porque no fundo essa falta de interesse sempre me assustou. Procurei por sentimento e só encontrei recordações. Sofri em cada esquina como se cada um deles fosse o único mas a realidade era diferente. Era só a dor de não sentir nada. Nunca houve decepção porque não houve expectativa.
Não procuro nada já que só consigo ver os mesmos olhos em pessoas diferentes. Olhos estes que, por mais distantes que estejam, ainda parecem enxergar minha alma e encontrar algum sentimento que ainda resta e que eu sozinha não consigo encontrar.
Não há ilusão em pedaços do que já não existe.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Consolo na Praia

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

Carlos Drummond de Andrade


Ouça na voz de Carlos Drummond

domingo, 19 de junho de 2011

Você simplesmente sumiu da minha vida, mas deixou comigo suas risadas e seu jeito bobo de falar.
Deixou aqui dentro aquele cheiro que eu tanto gostava e aquele abraço que eu não queria que terminasse nunca.
Se choro hoje são pelas lembranças,e por essa pessoa que você se tornou que eu não reconheço.
Eu sinto a sua falta, ainda me dói pensar em tudo isso, mas a sua ausência me trouxe a liberdade, e como eu a desejava!
Parece que eu olhava através de um buraco muito pequeno, e só enxergava você. E então você desaparece, e eu vejo a cidade.
E a cidade a noite parece que sorri! E vejo as pessoas se entenderem com olhares, e rirem. E como isso faz bem!
A sensação é de leveza, aquela paz de espirito que só se alcança quando a visão é maior, quando se vê além.
E eu me vejo além.
Te ver sorrir ainda me faz feliz, mas agora a lua parece mais atraente que seu sorriso.
E aquelas pessoas na esquina conversando com tanta alegria parecem velhos amigos, e eles me chamam para mostrar a vida de outra forma. Uma vida sem você.
E aquele medo que tanto me dominava agora se transforma em curiosidade, e na vontade de mostrar quem eu sou, e na vontade de falar com aqueles estranhos que eu tanto achava fútil! Mostrem-me suas
futilidades. Deixe eu mostrar as minhas também! Deixa eu mostrar que é possivel sorrir sem sentir o vazio depois.

domingo, 12 de junho de 2011

dois

A vontade é de vomitar um monte de palavras até parar essa ânsia que insiste em se instalar.
Peço de volta meu coração vazio, meu estômago sem enjôo e meus olhos secos, não acho justo que apenas a sua nova presença tenha me sufocado tanto.
Que amor é esse que tanto querem trazer no peito? É tanta angústia em ter alguém que não se enxerga o peso e o espaço ocupado. Sonhos são substituidos, abre-se mão de desejos e ideais e como retribuição ganha-se deprezo, decepção e dor. E dor.
Portanto devolva o meu vazio pois com ele já aprendi a conviver. Leve seu peso e seu espaço. Leve seu sorriso e sua alma, e não volte. Nunca mais.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Se você quase sempre se apaixona por pessoas que te provocam, que esperam que você seja mesmo melhor do que é, que te beliscam o ego, que te torcem as certezas, que lançam fogo no lago calmo e azul da sua mente. Se você transa melhor com aquela pessoa que te irrita. Se você conversa melhor com aquela pessoa que pode discordar, se você vê mais beleza nas faíscas, nas fagulhas. Se você tem você como grande prioridade, ainda que estar apaixonado seja sua grande prioridade. Se você até tenta resolver o problema mas, por causa dos seus problemas, acaba complicando um pouco as coisas. Se você ri bastante mas também é um pouco deprê. E gosta de gente engraçada que também é um pouco deprê. Porque a graça real vem da tragédia que é estar vivo. Se você tem inveja de quem ama, apenas porque ama tanto que às vezes gostaria de viver dentro da pessoa. Ou só porque a inveja e o amor são coisas que nos acometem e não tem muito o que fazer. Se você tenta caminhar na corda bamba, mas vive esfolado, machucado e tonto, de tanto cair. Se você às vezes manipula e intimida e não deixa segura a pessoa amada, porque você é estragado de cabeça e de coração. Mas também abraça, pede desculpas e vomita tanta sinceridade que consegue ter charme e pureza nas maldades. Enfim, se você é errado e não serve pra alma gêmea de ninguém, talvez eu seja sua alma gêmea.

- Tati Bernardi